VALE SAGRADO

É UM ESPAÇO PARA OS QUE AMAM A VIDA E A NATUREZA.

PARA NÓS, QUE ACREDITAMOS EM SONHOS,  NOS MISTÉRIOS,

NA MAGIA E NA EXISTÊNCIA DE SERES ENCANTADOS... 

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Pablo Neruda
Pablo Neruda

 

"Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito.

O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo."

 

 

 

"Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas, nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira."

 

 

 

Os Teus Pés

 

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

 

 

Poema XLIV

 

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

 

 

Talvez

 

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…

 

 

É Proibido

 

É proibido chorar sem aprender,

Levantar-se um dia sem saber o que fazer

Ter medo de suas lembranças.

 

É proibido não rir dos problemas

Não lutar pelo que se quer,

Abandonar tudo por medo,

 

Não transformar sonhos em realidade.

É proibido não demonstrar amor

Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.

É proibido deixar os amigos

 

Não tentar compreender o que viveram juntos

Chamá-los somente quando necessita deles.

É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,

Fingir que elas não te importam,

 

Ser gentil só para que se lembrem de você,

Esquecer aqueles que gostam de você.

É proibido não fazer as coisas por si mesmo,

Não crer em Deus e fazer seu destino,

 

Ter medo da vida e de seus compromissos,

Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

 

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se

desencontraram,

Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.

É proibido não tentar compreender as pessoas,

Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

 

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.

É proibido não criar sua história,

Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

 

Não ter um momento para quem necessita de você,

Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.

É proibido não buscar a felicidade,

 

Não viver sua vida com uma atitude positiva,

Não pensar que podemos ser melhores,

Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

 

 

"Se sou amado,

quanto mais amado

mais correspondo ao amor.

 

Se sou esquecido,

devo esquecer também,

Pois amor é feito espelho:

tem que ter reflexo."

 

 

Se cada dia cai

 

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

 

 

Antes de amar-te, amor, nada era meu

Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

 

 

O Vento na Ilha

 

O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama calopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite

descansarei, amor meu

 

 

Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.

Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido…
Nenhuma mais, amor, dormira com meus sonhos…
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
sempre viva. sempre sol… sempre lua…
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo…
teus olhos se fecharam como
duas asas cinzas, enquanto eu sigo a água
que levas e me leva.
A noite… o mundo… o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho…

 

 

Gosto quando te calas

 

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

 

 

Para meu coração basta teu peito

para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

 

 

Plena mulher, maçã carnal, lua quente,

espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas pernas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um so mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

 

 

É assim que te quero, amor,

assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

 

 

Tu eras também uma pequena folha

que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

 

 

Não te quero senão porque te quero,

e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

 

 

Amo tanto as palavras... as inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio presentes da onda...

 

 

A Dança

 

Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:

Te amo como se amam certas coisas obscuras,

Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva

Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,

E graças a teu amor vive escuro em meu corpo

O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:

Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim deste modo que não sou nem és,

Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,

Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de amar-te, amor, nada era meu:

Vacilei pelas ruas e as coisas:

Nada contava nem tinha nome:

O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos, Túneis habitados pela lua,

Hangares cruéis que se dependiam,

Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,

Caído, abandonado, decaído,

Tudo era inalianavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,

Até que tua beleza e tua pobreza

De dádivas encheram o outono.

 

 

O Ramo roubado

 

Pela noite entraremos para roubar

Um ramo florido.

Ainda não se foi o inverno,

E a macieira aparece

Convertida, de súbito,

Em cascata de estrelas perfumadas.

Pela noite entraremos

Até chegar ao firmamento trêmulo,

E tuas mãos pequenas como as minhas

Roubarão as estrelas.

E sigilosamente

À nossa casa,

Pela noite e na sombra,

Entrará com teus passos

O silencioso passo do perfume

E com pés entrelaçados

O corpo claro desta primavera.

 

 

O Vento na Ilha

 

O vento é um cavalo

ouça como ele corre

pelo mar, pelo céu.

 

Quer levar-me: escuta

como percorre o mundo

para levar-me longe

Esconde-me em teus braços

por esta noite somente,

enquanto a chuva abre

contra o mar e a terra

suas incontáveis bocas.

 

Escuta como o vento

me chama galopando

para levar-me longe.

 

Com teu peito em meu peito,

com tua boca em minha boca.

nossos corpos atados

ao amor que nos queima,

deixa que o vento passe

sem que possa levar-me.

 

Deixa que o vento corra

coroado de espuma,

que me chame e me busque

galopando nas sombras,

enquanto eu, submerso

debaixo de teus grandes olhos,

por esta noite somente

descansarei, meu amor.

 

 

Quero apenas cinco coisas..

Primeiro é o amor sem fim

A segunda é ver o outono

A terceira é o grave inverno

Em quarto lugar o verão

A quinta coisa são teus olhos

Não quero dormir sem teus olhos.

Não quero ser... sem que me olhes.

Abro mão da primavera para que continues me olhando.

 

 

Depois de tudo te amarei

como se fosse sempre antes

como se de tanto esperar

sem que te visse nem chegasses

estivesses eternamente

respirando perto de mim.

 

Perto de mim com teus hábitos,

teu colorido e tua guitarra

como estão juntos os países

nas lições escolares

e duas comarcas se confundem

e há um rio perto de um rio

e crescem juntos dois vulcões.

 

Perto de ti é perto de mim

e longe de tudo é tua ausência

e é cor de argila a lua

na noite do terremoto

quando no terror da terra

juntam-se todas as raízes

e ouve-se soar o silêncio

com a música do espanto.

O medo é também um caminho.

E entre suas pedras pavorosas

pode marchar com quatro pés

e quatro lábios, a ternura.

Porque sem sair do presente

que é um anel delicado

tocamos a areia de ontem

e no mar ensina o amor

um arrebatamento repetido

 

 

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.

Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;

Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.

Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,

Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

 

 

"Se cada dia cai, dentro de cada noite,

há um poço onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira do poço da sombra

e pescar luz caída com paciência."

 

 

Me encante com uma certa calma, sem pressa. Tente entender a minha alma.

 

 

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